segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Encantada



Domingo à noite, dia dos pais, minha filha de 07 anos insiste em que eu veja com ela um filme que ela adora. Assim fizemos. Arrumamos o sofá, ela deitadinha sobre meu peito, começamos a ver Encantada. No Filme, Giselle é uma bela princesa que, às vésperas do seu casamento, é empurrada num poço profundo por uma rainha malvada, madrasta do príncipe, que queria evitar o casamento do seu enteado para não perder o trono. Dessa forma, a malvada conseguiria banir Giselle de seu mundo mágico e musical (a música é linda!). Entretanto, das profundezas do poço, esta ressurge sobre uma tampa de esgoto, em Manhattan dos dias atuais. Perdida na metrópole americana e ainda vestida de noiva, a moça continua a procura por seu príncipe. Então, ingenuamente, acaba subindo num Outdoor onde havia a foto de um castelo, supondo estar ali a porta do seu mundo perdido. Aquela cena inusitada é descoberta pela filha pequena de um passante que, a pedido da filha, socorre a princessa e a leva para casa. O pai da garotinha é Robert, um advogado divorciado prestes a casar novamente e que desperta em Giselle uma nova paixão. Mas, Giselle ainda não se dá conta do sentimento e continua a esperar o príncipe Edward, que decide também deixar o mundo mágico para procurar sua amada em Manhatan. Depois de muitas vicissitudes, finalmente, o principe a encontra. Mas, paradoxalmente, ante a iminência de voltar para o seu reino, Gisele começa a perceber sua paixão pelo advogado e pede para ficar mais um pouco para uma festa. Assim, (num final surpreendente para histórias infantis), Gisele termina descobrindo seu novo amor e ficando em Manhattan com o advogado. Por outro lado (suponho que para as coisas ficarem mais palatáveis), a noiva deste encanta-se pelo príncipe Edward e é levada para o mundo encantado, onde se casam e vivem felizes para sempre.
Em alguns momentos do filme em que fiquei distraído, minha filha chamara-me a atenção para que eu não perdesse o final. Após assistir atentamente o final, como ela queria, fiquei intrigado, pensando em porque ela insistira tanto para que eu visse essa mudança brusca de escolhas de duas princesas prometidas. E olha que eu tinha acabado de ver o filme “Os Normais”, onde essa alternância de casais também ocorre, de maneira nada ingênua, às vésperas do casamento. Depois de passar uma noite perturbado com a questão, perguntei, então, para minha filha porque ela quis tanto que eu visse aquele final. Ela respondeu que apenas queria assistir ao filme comigo, só porque era dia dos pais.
É claro que pode ter sido este mesmo o motivo. Só ela saberá. O que importa é que minha filha acabou me dando um belo presente. Desde que vi o final do filme, comecei a pensar sobre o desejo nas mulheres. Aquelas mudanças de amores deixaram-me um tanto preocupado com a idéia que tenho de amor romântico. Como podia uma princesa que acabara de encontrar o seu príncipe e que parecia tanto amá-lo, mudar assim de amor tão rápido? Como podia que ela não tivesse dado conta disso (embora continuasse desejando que seu príncipe amado viesse buscá-la) e, só após a chegada deste, tenha descoberto que seu desejo já se dirigia para o advogado? Não estava acostumado a pensar que princesas podiam ser tão instáveis em seu amor. Muito menos que elas pudessem desejar outros homens ainda vivendo a expectativa do casamento com seu príncipe. Cheguei a ficar perturbado e a me perguntar o que realmente me incomodava, senão o fato de eu ter descoberto pela minha filhinha algo tão simples e que todos os homens ou, pelo menos, os pais fazem questão de esquecer: que as mulheres desejam e que suas vidas não se resumem a partilhar um mundo mágico com seu príncipe encantado. Outra coisa que talvez seja tanto atual quanto insofismável nesta historinha é que, mesmo pensando amarem seus príncipes encantados, as princesas mais doces do mundo podem ter seus sentimentos traídos por um desejo que elas próprias parecem desconhecer (embora  possa haver indícios disso).
No dia dos pais, aprendi que é bom que admitamos a possibilidade de sermos superados por outro homem em nossos atributos encantados, mesmo quando nos sabemos amados pelas nossas princesas. Obrigado, Milena!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Striptease Blues

Striptease Blues (Para Meu Amor)


Mora em meu avesso
em vestes céus azuis
um velho homem nu de nuvens
de algodão
provocante ao se despir do preço
revelando aos poucos sonhos
de verão
desvestindo lento a alma ao som de
um blues
até, enfim, expor seu coração
à luz
que aceso cede ao sedutor impulso
-posto que, além de músculo, é vaso-
de encher-se afoito no sangue dos teus pulsos.