terça-feira, 12 de abril de 2011

Oficina

Vício de consertar poemas
os feitos de mim
velhos, miseráveis
imploram por escrito: não cremas!
Vão pra oficina.
Com
certo
trato
tornam
se
abstratos
no torno
retorço
os retos
conformo
os tortos
liquefaço
concretos
eruditos
destroço.
Oficina de poemas:
nobre sina
serra verso
corta termo
prega rima
lavra dor.
Velhos poemas consertados,
quem os quer, Amor?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Asfixia

                  (para Giselly, que o recitou no Festival Maranhense de Poesia Falada, em 1987)

Falta ar
Passam idéias sufocantes
todas pela metade
O coração é um tanque de guerra
a cabeça, um míssil desativado
a alma flutua sobre o prodre resto de corpo
sobre braços ocos sem a carne da paixão
veias gélidas,
         fúnebres
passos desatinados nas linhas da mão
os olhos abertos num quarto sem tua luz
sob o susurro do esquecimento
o silêncio toca o disco da tua voz
Para a oficina do ser eu
o ser tu já não é dito em mim
Sou um monumento europeu
ou um mendigo num sono de jardim?
Talvez seja o jornal que abraça o mendigo
talvez a ferrugem na flecha do cupido...