sábado, 9 de agosto de 2014

Lençóis, jazz e blues

A noite era invadida pela luz do palco e ciumentinha a lua se abrigava do brilho que refletia da praça. De longe, a sempre complacente Igreja dos Remédios lançava um olhar aturdido de mocinha espantada. Enquanto isso, o público extasiado levantava-se para aplaudir de pé, ainda sob o impacto do romance das canções, o finalzinho do show. As notas de “Georgia on my mind”, “New York, New York”, “What a wonderful world” ainda passeavam pelos ouvidos da praça do Jazz, com Maria Comunista de mãos dadas com “Patativa”. E eu me perguntava, ainda atordoado com a interpretação de “What a difference a day made”: what?, what?
Sim, um público grandioso na praça Maria Aragão completamente hipnotizado pela voz baritenor aveludada de Augusto Pellegrini. Sobrenome que bem poderia ser Sinatra, Bennet, Armstrong, não fosse perder o tempero inconfundível, simplesmente augusto, sublime. Naquele momento, acontecia o ápice de uma das mais belas apresentações musicais que a Ilha, fazendo jus ao amor do nome, já vira, ouvira e sentira. Momento único do VI Lençóis Jazz & Blues Festival (http://www.lencoisjazzeblues.com) no qual o lirismo sofisticado do jazz de fraque desfilou elegante na praça da dignidade do povo.
 O êxtase a que o público chegava era o acúmulo de overdoses estético-musicais, provocadas também pelos convidados de Augusto. Além do reconhecido talento de Fernando de Carvalho, Augusto generoso trouxe uma rosa atômica. Rosa, porque diva para ela é pouco. Camila Boueri foi explosiva, incendiária, revolucionária. Ainda estou a me perguntar se essa moça existe mesmo, ou se é um truque do Tutuca. A rosa blue fez arrepiar, deu frio na espinha, fez minha mulher chorar. Interpretações adultas, no calor azul de seu vestido brilhante. Dicção perfeita, técnicas vocais e afinação. A praça quer saber: onde ela canta? O Brasil ainda não sabe que quer ouvi-la, mas quer. Será que a moça anda se escondendo do brilho como fez a lua azul sobre a praça? Lua, cante, blues!
Depois de tudo isso, ainda tivemos o show absolutamente encantador da banda londrinense Cluster Sisters, com seu jazz de vestidinho de bolinha e trios vocais perfeitos. Um estilo relíquia rejuvenescido por girls e boys talentosíssimos e charmosos que encantou a todos. E ainda teve Bela apresentação do gaitista Jefferson Gonçalves!!! Ufa!
Imaginem o que as rosas e luas dos bastidores tiveram que trabalhar para realizar o festival. Destaque absoluto para a organização e produção profissional, generosa e sensível. A qualidade sonora e a iluminação estão no nível dos melhores festivais do gênero. Que estrutura! Que programação! Parabéns, Tutuca Viana, Renata Rodrigues, Zuilla Pereira & Cia!!! O povo da praça agradece pela beleza da noite, pelas canções, pelo espetáculo que vocês trouxeram. Vocês foram os culpados por esta insônia delirante na madrugada. O Jazz e os Blues do festival ainda não saíram dos meus lençóis.